BEM VINDO AO SER-PARA-AÇÃO

GRUPO PARA MULHERES

O Ser-Para-Ação foi criado com o intuito de ajudar mulheres que estão, neste momento, vivendo término de relacionamento. Seja casamento, noivado ou namoro, as mulheres sofrem com o fim da relação. Neste grupo iremos abordar questões que causam sofrimento, de forma a elaborar esta dor. Temos também como objetivo trabalhar a autoestima e a autoconfiança para que possam pensar numa relação futura.


sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Armas que um Misógino tem para oprimir suas parceiras



O misógino possui um extenso repertorio de táticas para assustar: insultos, comentários desdenhosos e outros comportamentos intimidadtivos, destinados a fazer com que a parceira se sinta inadequada e desamparada. Os ataques mais óbvios incluem gritos, ameaças acessos de raiva, insultos e criticas constantes.
Ele pode também fazer ameaças implícitas de danos físicos.
Mas a maior parte do comportamento misógino, cruéis e opressores, são motivados por forças que estão alem da percepção consciente. 
As agressões verbais podem ser aterradoras e desmoralizantes quanto às ameaças implícitas de violência física.
Esses abusos são perseguições sistemáticas. A violência verbal pode ser tão devastadora para a saúde mental de uma pessoal num período mais prolongado, é uma violência psicológica.
Muitas mulheres de misóginos justificam: “Pelo menos ele não me bate”. Mas elas se sentem igualmente assustadas, tão desamparadas e com a mesma angustia. Que diferença faz se AS ARMAS são os punhos ou as palavras, essas são dequalquer maneira abusivas.
Esse tipo de opressão psicológica é particularmente insidioso, por que muitas vezes está disfarçada de ensinamentos para tornar a mulher uma pessoa melhor. Este tipo de misógino se apresenta como mestre e guru da parceira: Mas não o importa quanto ela se esforce e mude para atender as suas necessidades, sempre estará inevitavelmente errada.

Formas que os misóginos têm de OPRIMIR sua parceira:

• Através da negativa: ele nega o corrido, levando a parceira a questionar sua acuidade, e a validade de sua memória. Assim não há jeito de se resolver os problemas com alguém que nega sua existência e insiste que nunca ter existido o que a mulher sabe ter ocorrido
• Através da alteração dos fatos, o misógino reformula o fato para se ajustar a sua versão, faz alterações drásticas e amplas nos fatos, a fim de chancelar sua versão da historia.
• Alega que está se comportando mal, como reação a algum desvio de sua parceira, é como se seu comportamento afrontoso passa a ser uma reação compreensível a alguma terrível deficiência ou provocação da parceira. Transferindo a culpa ele se protege: absolve-se do desconforto de reconhecer sua participação no problema e convence a parceira que suas deficiências de caráter soam o verdadeiro motivo das dificuldades na vida em comum.
• A parceira não pode protestar, e se a parceira o faz, ele fica mais furioso. Ele encara a reação como um ataque pessoal e como prova das inadequações da parceira.. Ele transforma a parceira em culpada e ele a própria vitima. Isto acontece, pois ele está mais preocupado em desviar a culpa de si mesmo do que em reconhecer a angústia que causa à parceira.
• Se o misógino se sente ameaçado de perder alguma coisa que lhe é importante, e sentindo-se humilhado, é bastante provável que a balança se incline para a brutalidade. Para ele através do medo poderá controlar melhor sua parceira.
• Se a parceira tiver alguma atividade significativa que o misógino encare como ameaça, ele fará testes de sua devoção, fazendo com que a parceira reduza drasticamente seu mundo. Esse tipo de ciúmes e de possessividade se estende a todos os aspectos de vida. Qualquer coisa que a parceira faça que esteja fora do controle do misógino, ou seja, encarada como uma ameaça a ele deverá ser abolida. 
• Entre todas as coisas ineficazes que uma mulher pode fazer, tanto consciente como inconscientemente, para tornar o relacionamento menos doloroso, a CONIVÊNCIA é ao mesmo tempo a mais sutil e mais destrutiva para ela. No momento que ela entra em conluio com ele, a mulher perde de vista o que acontece de fato entre os dois. Sua distorção da realidade para se ajustar à visão do parceiro indica que suas percepções estão completamente fora de foco.


O misógino tem um sentimento ambivalente em relação às mulheres, baseados em grande parte em seus relacionamentos com as mães. Eles transferem esses sentimentos para as mulheres com as quais se envolvem. Depois, passa a acreditar que é tão dependente da parceira como era de sua mãe.
Inerente ao medo dessa dependência existe o medo igualmente terrível que ela venha a abandoná-lo. O temor de ficar sozinho, de ser incapaz de enfrentar uma situação de ser oprimido por uma necessidade insaciável torna a dominá-lo; Em termos cronológicos, ele é um adulto, mas psicologicamente ainda é um menino assustado.
Todos os comportamentos controladores que ele usa derivam de seu medo de abandono. É um medo contra o qual precisa defender, a qualquer custo. Num esforço para atenuar a ansiedade, ele tenta assumir o controle sobre a parceira, destruindo-lhe a autoconfiança, de modo que ela nunca o deixe e ele possa, assim, ter segurança.

Relacionamentos Conturbados: Misoginia



por Rita Maria Brudniewski 


Muitas pessoas possuem relacionamentos conturbados e não sabem o porquê, causando uma profunda infelicidade nos parceiros. Pessoas que no passado tinham sido bem sucedidos profissionalmente, mas através da opressão psicológica tornaram suas vidas insuportáveis. 

Se você tem um relacionamento em que:
• Seu parceiro assume o direito de controlar sua vida;
• Você renunciou a atividades ou a pessoas importantes em sua vida;
• Ele menospreza suas opiniões, sentimentos e realizações;
• Ele grita, ameaça ou se retira para um silêncio furioso, quando você o desagrada;
• Você “pisa em ovos”, ensaiando o que dirá a fim de não irritá-lo;
• Ele a deixa atordoada ao passar do charme para a raiva de forma inesperada;
• Você se sente frequentemente confusa, inadequada ou desequilibrada com ele;
• Ele é extremamente possessivo e ciumento;
• Ele a culpa por tudo o que está de errado no relacionamento;
Se acontecer várias dessas situações em seu relacionamento, de acordo com a Dra. Susan Forward, você está envolvida com um MISÓGINO.

"Misógino é uma palavra grega utilizada como referência a quem odeia mulheres: miso (odiar) e gyne (mulher)." (1);

Esses homens são encantadores e amorosos, mas também capazes de assumir um comportamento cruel, crítico e insultuoso, de um momento para o outro; seu comportamento estende-se da intimidação, ameaça óbvia a ataques mais sutis e disfarçados, sob a forma de constantes afrontas ou críticas erosivas. Esse homem assume o controle ao esmagar a mulher. E se recusa a assumir qualquer responsabilidade pela maneira como seus ataques faziam a parceira se sentir, em vez disso culpa-a por todo e qualquer incidente desagradável.

O que acontece quando se está num relacionamento conturbado como esse:
• Perdas drásticas do amor-próprio;
• Sintomas adicionais psicossomáticos;
• Problemas com álcool e drogas;
• Problemas com a alimentação;
• Problemas do sono;
• Depressão;
• Síndrome do Pânico;
• Isolamento.

Eles parecem amar intensamente, com relacionamentos duradouros, com uma necessidade brutal de CONTROLAR mais do que necessitavam ser admirados, como os narcísicos.
Eles podem ser responsáveis e competentes em suas relações com a sociedade; seu comportamento destrutivo não é generalizado, como acontece no sociopata. Esse comportamento destrutivo é dirigido exclusivamente à parceira.
Ele usa as palavras e as variações do temperamento como armas, esgotando a mulher com golpes psicológicos, que são devastadores em termos emocionais.
O misógino é filho de uma relação conturbada onde aprendeu, observando seus pais, que a única maneira de controlar a mulher é oprimindo-a. Ao lado disso, ele pode ter sentido que sua mãe não poderia existir sem ele, já que seu pai a maltratava; ou ainda, ele pode ter tido uma mãe que o oprimiu ou rejeitou, ao lado de um pai passivo.
Qualquer que tenha sido sua história, o misógino está na fase adulta “atuando” a sua dor de “criança” ferida, buscando desesperadamente ser amado ainda que de uma forma equivocada (1).

A Dra. Susan Forward e Joan Torres escreveram um livro intitulado “Os homens que odeiam suas mulheres e as mulheres que os amam. Quando amar é sofrer e você não sabe por quê”. Eles se sentiram comovidas com as mulheres que escreveram e contaram suas histórias. Elas precisavam serem tranqüilizadas de que o que sentiam em seus relacionamentos não era “loucura.”

Para mudarmos um relacionamento precisamos compreendê-lo e mudarmos nossa forma de pensar e agir. Recomendo esse livro a todas as mulheres que estão se relacionando com um misógino, para que os dois possam, conscientes de seus transtornos, procurar ajuda de um especialista.

domingo, 7 de julho de 2013

AS VÍTIMAS DA PERVESIDADE

Nos dias de hoje em que somos acossados pela violência explícita vinda de várias frentes, também
somos muitas vezes testemunhas ou mesmo vítimas de um tipo de violência mais difícil de
visualizar e nem por isso menos violenta. Essa violência advém de relacionamentos com pessoas
perversas, que elegem uma vítima e passam a se dedicar à tentativa de destruí-la. Já que não é
possível matá-la fisicamente, tentam assassiná-la moral, emocional e socialmente. Esse tipo de
ação vem sendo estudada por especialistas nos últimos anos e recebeu o nome de assédio moral,
uma forma de abuso emocional.
Mas afinal do que estamos falando? O que é um indivíduo perverso e, mais, o que estamos
chamando de uma relação perversa? Os estudiosos do assunto definiram indivíduos perversos como
sendo aqueles que, sob a influência de seu grandioso “eu”, tornam-se capazes de tentar criar
sempre uma relação peculiar com uma segunda pessoa. Nesse tipo de relação característica, o
sujeito perverso ataca particularmente a integridade psíquica do outro, visando desarmá-lo e
deixá-lo à sua mercê. Assim são atacados igualmente o amor-próprio do outro, sua confiança em
si, sua autoestima e a crença em si próprio.
Todas as pessoas estão sujeitas a terem momentos de perversidade moral do tipo descrito em suas
relações com os outros. A diferença é que os verdadeiros perversos só sabem se relacionar desta
maneira em todas as esferas de sua vida. Movidos por um egocentrismo extremado e uma total
falta de empatia com os outros esses indivíduos ainda sentem uma enorme inveja dos que parecem
possuir o que eles não têm ou daqueles que simplesmente têm prazer com a própria vida.
Os perfis das vítimas também têm sido estudados dentro da vitimologia. Esta disciplina é recente e
estuda o processo de vitimização, suas conseqüências para as vítimas e os direitos que elas possam
vir a reivindicar. Durante muito tempo dizia-se que a vítima da pessoa perversa seria masoquista.
Hoje, entretanto sabe-se que elas são pessoas bem dotadas, cheias de vitalidade e colaboradoras.
São seduzidas para se enredar numa relação destrutiva justamente a partir de seu feitio doador. É
deste feitio que o agressor tira partido ao se apresentar como alguém a quem a vida lesou e que
necessita muito de proteção e carinho. A maior vulnerabilidade das vítimas é que elas não se veem
como são. Têm dúvidas quanto a sua própria capacidade. Isso faz com que criem para si o desafio
de mudar o outro, provando assim sua força e seu valor.
Mas será mesmo possível que o agressor consiga tudo isso sem encontrar obstáculos? Certamente,
pois existem inúmeras formas básicas e simples de desestabilizar o outro e o perverso as conhece
muito bem. Ele sabe, por exemplo, que, para tal, basta rir das convicções e dos gostos do outro,
deixar de lhe dirigir a palavra, ridicularizá-lo publicamente, denegri-lo diante dos demais, colocar
em dúvida sua capacidade de avaliação e decisão. E assim por diante.
Assim, um processo de desqualificação de alguém geralmente leva anos, especialmente em
relações familiares, em que os cônjuges e os filhos são as vítimas mais comuns. No início não há
palavras explícitas, apenas olhares de desprezo, alusões malévolas e críticas dissimuladas. Um dia
vem o momento crucial, quando surgem as palavras “você é mesmo uma pessoa muito
complicada”, diz, por exemplo, um pai a uma filha. Esta integra este lado e vai-se anulando
realmente. Ou seja, alguém torna nula sua própria identidade porque o outro decretou o que ela
era.
Durante muito tempo a vítima, confusa, não compreende o que se passa com ela. Mas quando
enfim se dá conta e resolve reagir, rompendo com seu agressor, desperta a ira do perverso. É aí
que a violência se torna intensa, explícita e implacável. Alguns perversos passam a dedicar sua
vida a tentativas de destruir o outro. Estas pessoas podem até parecer se ocupar de outros
projetos, mas o único que realmente lhes importa é o de tentar destruir quem ousou lhe
abandonar.
Mas, como é levada a cabo tarefa tão ambiciosa? Para tal é preciso que sejam criadas muitas
mentiras acerca da idoneidade da vítima, que passa a ser culpada de tudo o que aconteceu (de
ruim) ou deixou de acontecer (de bom) ao agressor. É bom lembrar que o indivíduo perverso não
experimenta um sentimento de culpa por agir assim. Ele é incapaz de sentir empatia ou
compaixão por outro ser humano.
A pior de todas essas situações é a que envolve as relações de pais perversos e seus filhos como
vítimas. Aos olhos do agressor os filhos deixam de ser seus filhos e passam a ser filhos apenas do
seu ex-cônjuge, merecedores, portanto, de todo o seu ódio. Nesses casos terapias feitas com as
vítimas podem ser eficazes para deter o processo de destruição da identidade. Mas é preciso que o
terapeuta venha a agir diferentemente da maioria da sociedade; ou seja, por comodismo ou
respaldos numa alegada postura neutra os terapeutas podem até se omitir. Quando deixam de
destacar e nomear para as vítimas esse tipo de abuso emocional, dificultam sua liberação do
agressor.
Como em todos os demais casos de abuso sabemos hoje que a vítima precisa de alguém que
acredite nela para ter forças para reagir ao massacre. Muitas vezes basta que só uma pessoa
acredite e apoie a vítima para que ela comece a se reorganizar emocionalmente. Esperemos que
se for um terapeuta o escolhido para desempenhar esse papel, ele seja capaz de abraçá-lo sem
entraves, até por sua condição de ser humano anterior à de terapeuta.
No meio cultural individualista em que vivemos esse tipo de ataque está se tornando mais comum.
Precisamos todos ter cuidado, pois a pretexto de sermos tolerantes, podemos estar sendo
complacentes com uma situação desse tipo próxima a nós, facilitando assim a atuação predadora
do perverso.


Simone Sotto Mayor

domingo, 30 de junho de 2013

TÊNIS OU FRESCOBOL - A ARTE DE CONVERSAR OU DISPUTAR PODER











Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol.
Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele : "Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: "Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?" tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar".
Sherazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O Império dos Sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música.
A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo: "Eu te amo, eu te amo..."Barthes advertia: "Passada a primeira confissão, "eu te amo" não quer dizer mais nada.
É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado; "Erótica é a alma".
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objeto sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora do jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. 
Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre.
O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir... e o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado, mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho para lá, sonho pra cá... 
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada.

Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... o que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração.

O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...

sábado, 29 de junho de 2013

Romantismo Imaginário ou Encontro Real



Sou acusado de subtrair o encantamento do amor desde 1976.
Na época achava como todo mundo, que ninguém podia ser feliz sozinho e que, portanto, o essencial era acertar na escolha do parceiro. Como essa opção decorre de um ato racional, fui acusado de tentar impor rigor científico a algo que deveria acontecer por meios mágicos, pelas flechadas estabanadas do Cupido.
Sou médico, não poeta, de modo que é meu dever dissecar os temas que estudo. Analisar os sentimentos não significa menospreza-los.
A maioria dos que se ressentem do fim do romantismo só o experimentou na fantasia. Poucos viveram um amor pleno, derivado do encontro de sua metade, ou compartilharam com ela o mesmo teto. Quantos conseguiram construir juntos uma família sadia e se manter cúmplices, amigos, amantes, tudo ao mesmo tempo? E quantos sonharam com essa sintonia enquanto amargavam no dia a dia os dissabores do convívio com alguém que não o completava?
Parece que, menos do que a paixão romântica, o que essas pessoas temem perder são os sentimentos conflitantes que as envolvem. Lamentam o fim das dores de estômago, da sensação de vazio, das lembranças que a trilha sonora dos desencontros evocam. Choram o fim de algo que trouxe mais sofrimento do que prazer e alegria.

O que tenho testemunhado em mais de trinta anos de carreira me faz acreditar que caminhamos para uma época de ouro. O conceito das metades começa a ceder espaço a uma concepção mais madura: de que somos unidades. Esse avanço deve ser encarado com alegria, pois nos leva para mais perto da verdade. E, quanto mais próximos da realidade, maiores nossas chances de encontrar a felicidade. Ainda que o sentimento de que somos fração nos domine, devemos nos esforçar para nos transformarmos em unidades.
A independência, a descoberta de como é prazeroso passar um tempo sozinho e outros tipos de convivência nos ajudam a compreender nossa condição de unidades. Isto é ótimo, pois abre caminho para novos paradigmas amorosos: em vez de metades que se fundem indivíduos únicos que se aproximam. Os novos relacionamentos vão se basear no respeito, na admiração, na confiança mútua, no encantamento sexual e no fascínio de cada um pelo jeito do outro ser. Ternura vai existir sempre.
Muitos elementos racionais estarão envolvidos nesses encontros – será que, de forma camuflada, não foi sempre assim? Porém, nem por um minuto imagino que eles sobrevivam sem ternura, sem os momentos mágicos de completude e de plena harmonia que sempre caracterizaram os sonhos românticos.

Ao contrário, acredito que seremos finalmente capazes de vivenciar aquilo com que, até hoje, só fomos capazes de sonhar.
A introdução explícita da razão nos processos de escolha amorosa não é um fator negativo nem diminui as chances de o casal viver todas as emoções relacionadas ao amor.

Aliás, não creio que exista antagonismo entre emoção e razão. Não entendo porque as pessoas insistem em pensar dessa forma. Talvez seja o meio que encontram de passar um verniz de dignidade nos próprios desacertos: se me encanto com alguém com quem não me afino e com quem só consigo viver às turras, deve ser porque o amor é mesmo irracional.
Elaborar um consolo para seus erros tem nome.
E isso sim, é racionalizar. 


Flávio Gikovate

quinta-feira, 13 de junho de 2013

O que é ser íntimo de alguém?


Temos pessoas com quem convivemos todo o tempo, colegas de trabalho ou mesmo familiares, que pouco sabem de nossas angústias, medos, desejos e alegrias.

Intimidade é diferente de convivência, conviver não é sinônimo de ser íntimo , apesar de muitos acreditarem nisso. Também é diferente de mistura, de simbiose. Não é possível ser íntimo de alguém se não houver individualidade. Primeiro ser, para depois compartilhar. Não se compartilha o que não se tem. 

Nascemos do aconchego do útero materno, da sensação de segurança que ele nos proporciona. Naturalmente desejamos nos relacionar, somos seres sociais, nascemos carentes de afeto, atenção e aceitação. O ser humano tem uma demanda de amor, busca amar e ser amado todo o tempo. Nascemos e imediatamente precisamos de afeto para nosso processo de crescimento emocional, da mesma forma que precisamos de cuidados para nos desenvolvermos fisicamente. Recebemos da figura materna o amor incondicional, aquele tão buscado em nossa vida: ser amado pelo que somos, o pacote completo.

E o que isso significa? Significa que buscamos em nossas relações, na maioria das vezes de forma inconsciente, essa sensação primária de plenitude e segurança, refletida em maior grau nas relações de intimidade. 

Intimidade é a possibilidade de relação mais próxima que implica em confiança. Confiar significa acreditar que seremos aceitos como somos, mas, não apenas pelo outro; para isso é preciso confiarmos em nós mesmos, em nossa capacidade de sermos genuínos, percebendo o que temos para oferecer numa relação tranqüila e prazerosa com o mundo. Contudo, é necessário o sentimento de esperança e fé no bom que existe no humano. Confiança se adquire através das relações e pela forma de relação que se estabelece, é um sentimento delicado e dinâmico, ela é como planta: se não regar morre. 

Intimidade também implica em entrega. É uma via de mão dupla, ser íntimo é ser cúmplice, é estar ao lado do outro e não misturado ao outro. Trata-se de uma proposta de relação mais profunda, que implica em envolver-se, doar-se e saber receber o outro, aceitar e aceitar-se, é troca plena, é Encontro no sentido Moreniano.*

Você pode ser íntimo de um amigo com quem conversa sobre varias coisas e não ser íntimo da pessoa com quem você dorme. Os medos, crenças e as inseguranças são os grandes responsáveis pelas dificuldades de envolvimento. Algumas pessoas confundem intimidade com submissão, alienação e mistura, outras entendem como fraqueza, falta de individualidade ou demonstração de carência.

Nossa sociedade competitiva, capitalista e violenta, torna as pessoas cada vez mais acuadas e descrentes no humano e consequentemente em si próprias. O medo e a competição, fazem com que as pessoas se relacionem apenas com parte do outro - àquela que deseja superar – o que impede que a relação seja verdadeira. Geralmente quando pergunto: porque não assumir que é uma dificuldade sua? ... a resposta é na maioria das vezes: ...eu??? falar de dores, limites, angústias... para que? Vou estar só me expondo! Ninguém vai resolver minhas questões!.
Em parte é verdade, nossas dificuldades, na grande maioria das vezes só podem ser resolvidas por nós mesmos, mas nem sempre temos os instrumentos ou conhecemos os caminhos para resolve-las, aí que entra o outro, com sua vivência e experiência de vida. 

Você já pensou se cada um tivesse que reinventar a escrita e a palavra sozinho, para poder se comunicar???... imaginem.. e se não tivesse ninguém disposto a aprender, só a ensinar??? Quanta perda de tempo!!! 

Quando nos relacionamos percebemos que não estamos sós, não somos os únicos a ter dificuldades e sofrimentos; temos a capacidade de aprender com nossos erros e acertos e com os erros e acertos dos outros. Por isso que a relação de intimidade deve ser cultivada, escolhida a dedo. Faz parte de nosso desenvolvimento emocional aprender a escolher entre as pessoas de nosso convívio, aquelas que merecem nossa confiança, ou seja trata-se de uma questão de auto proteção, da capacidade de aprender a cuidar de si mesmo. 

Ser íntimo significa compartilhar tudo? Dizer tudo, o que pensa e sente? até os pensamentos? Se pensamentos fossem para ser ouvidos eles aconteceriam em alto e bom som! 

Você deve estar pensando, mas então eu não deveria compartilhar minhas idéias, sentimentos e pensamentos? É claro que sim!, mas escolhendo com quem e o que compartilhar, nem sempre o outro agüenta ou está preparado para o que estamos pensando ou desejando.

Aqui retornamos na questão da individualidade. Costumo brincar dizendo que, até dentro do útero materno temos a proteção de uma bolsa, sabiamente colocada pela natureza. Na verdade nascemos concretamente de dentro de outra pessoa, mas não ficamos fisicamente em nenhum momento misturados ao outro, apenas emocionalmente. Talvez seja por isso que é tão comum a confusão entre capacidade de se envolver intimamente e a mistura relacional. 

Segundo a visão de desenvolvimento humano proposto por J.L. Moreno, criador do Psicodrama, a Matriz de Identidade emocional normal se estabelece a partir das relações que o indivíduo faz. Através de nossas vivências caminhamos de um momento de total Indiferenciação com o mundo (nascimento) para uma relação télica e plena onde seja possível trocar de lugar com o outro entendendo suas motivações pelos seus olhos (maturidade emocional), sem com isso, desrespeitar nossas crenças, valores, e individualidade. Moreno chamou o ápice dessa fase de Encontro, onde podemos novamente- lembrando nosso nascimento - nos misturar com o outro, sem nos perdermos – porque agora existe um eu delimitado - e sair revitalizados, enriquecidos. Seria o ponto máximo de diferenciação de identidade.
Cada pessoa tem suas motivações, resultado de sua história de vida e sua educação, somada às suas características inatas. A saúde emocional e mental de cada indivíduo é que determina como cada um vai suprir essas necessidades. Esta saúde interna se desenvolve como resultado de um processo de maturação do indivíduo, e obedece uma seqüência de desenvolvimento humano, segundo a teoria do desenvolvimento Moreniana.

Para nos envolvermos em qualquer tipo de relação, seja uma relação de amizade, profissional, amorosa ou simplesmente social, primeiro temos que conhecer nossa individualidade e o que significa um mínimo de noção de nossos desejos, características, medos, dificuldades e gostos; enfim, um pouco de nossa singularidade. Falei em mínimo, porque trata-se de uma busca de AUTOCONHECIMENTO que acontece durante nossa vida. Não acredito que alguém possa esgotar esse processo, porque somos seres dinâmicos e estamos aprendendo e consequentemente em transformação todo o tempo.
A maturidade enriquece e modifica. 
Portanto para que você possa construir uma relação de intimidade com alguém deve estar atento a esse processo de busca de si mesmo, à sua capacidade para amar e principalmente, para sentir-se amado.

* de J.L. Moreno, criador do Psicodrama




domingo, 9 de junho de 2013


Casei-me uma vez. Entrei feliz ao som dos Beatles. Durou 30 meses – o tempo do contrato de aluguel – e a separação foi para mim uma alegria maior. Admito que minha experiência foi um caso à parte. Aquela relação não teria ido longe, independentemente do formato.
Mas, se a cada dia mais pessoas se casam, a cada dia mais casais se separam. Meu irmão costuma dizer que o segundo casamento é o que dá certo. Entendi isso depois que me separei. Logo me apaixonei por um homem que também havia sido casado. Vivemos uma união em casas distintas, e, como reza o ritual que não fizemos, a morte nos separou. Mas a experiência anterior ajudou no cuidado que tivemos um com o outro nessa segunda chance. Aprendi lições que o tempo vem confirmando.
Muita gente se casa “para os outros”, não “para si mesmo”. Prefiro o amor silencioso e quieto um sentimento que não foi feito para todo mundo frequentar.
Casamento é a tentativa de fortalecer um laço que tem a fragilidade como essência – e aí mora a sua magia. Deve-se tomar cuidado com a armadilha de ter que ser para sempre. A obrigação é inimiga do desejo. Ignorar a promessa de eternidade talvez seja um bom começo para quem quer ficar junto o resto da vida. Para uma relação levam-se problemas, histórias, medos, frustrações. Mas não é essencial casar-se com a fila do banco que o outro teve que frequentar, nem com a irritação depois de um dia de trabalho. É importante dar colo, mas não pode ser colo o tempo todo. Dividimos com o outro as coisas difíceis na intenção de que elas se dissipem, não na de que aumentem de tamanho. Se for somar que sejam as alegrias.
Casamento não é nem pode ser fusão. 1 + 1continua sendo igual a 1 + 1. Cuidado com a vontade de ser dono da outra pessoa – já é tão difícil sermos donos de nós mesmos. O amor é feito de matéria sutil, e seu alicerce é justamente a impossibilidade de “ter” o outro. Quando o outro não está garantido, fazemos mais por ele. É sempre tempo de cultivar a delicadeza.

Muitos só entendem isso depois que se separam. Aí entra o raciocínio do meu irmão: numa segunda vez, erra-se menos. Quem já se separou certamente sabe o que é viver sozinho. E é preciso saber viver só para viver bem a dois.
Quem vive só se mobiliza para resolver seus problemas, não fica à espera de que o outro o faça. Quem vive só cultiva hábitos próprios, conjuga os verbos no singular. O plural é lucro. É fundamental preservar a autonomia, ou a relação se torna um depositário das mazelas e dos problemas mútuos.

Deve haver um jeito de reservar o melhor de nós para o outro e guardar o pior para nós mesmos. Preservar pequenos mistérios que nos mantêm interessantes. Há uma alquimia no exercício da conquista, do cuidado, da atenção.
É preciso cuidar do amor como planta frágil que é. Água demais, sol de menos, muito tempo no canto errado da varanda: tudo isso pode fazer murchar o que antes era exuberante. Para florir cada planta tem seu jeito. Como cada relação tem seus mistérios e idiossincrasias.
Não tenho dúvida: o amor é feito de presenças e faltas. E é na falta que se apura a vontade de estar junto. Acordar juntos é gostoso; acordar com saudade também. É que outra essência do amor é a liberdade: é preciso espaço para ele crescer confortável.

Amor pede rotina. Mas pede a suavidade de não fazer tudo sempre igual. Pede o cultivo da intimidade sem excessos. Amor é construção. Um tijolo a cada dia. É um trabalho que não termina nunca.
Talvez seja esse o significado da expressão: “Felizes para sempre”.

Cris Guerra – Revista Encontro- Março/